Manga de Vento Mostra Expandida de Dança volta a Pirenópolis neste domingo (19/06)

Em sua segunda edição, a Manga de Vento Mostra Expandida de Dança traz a Pirenópolis neste domingo (19/06) o espetáculo Desmonte, da bailarina e coreógrafa Juliana Moraes (SP). A apresentação será às 20h, no Teatro Sebastião Pompeo de Pina, logo após o show de Jorge Aragão, que encerra o Festival Gastronômico.

DESMONTE lida com muitas camadas de signos, emoções e sensações: a dor do outro para não se perder na própria, a fala que se transmuta em gestos, o balé e sua relação disciplinar pela repetição, estados de presença poética entre o controle e a entrega, o limite não como representação, mas como estrutura cênica. Ao invés de sucumbir ao cansaço e à confusão, a bailarina faz do limite a estrutura de seu estado corporal, desafiando-se à vista do público, às vezes sendo mais capaz de controlar os impulsos, às vezes completamente passiva as vozes e sons que ela escuta através de fones de ouvido. A relação de ambivalência entre controle e descontrole se expande também para campainhas operadas pela cabine, que comandam a respiração da intérprete, e movimentos tradicionais do balé clássico – técnica na qual Nijinsky se tornou exímio e que Juliana tenta, desde os 8 anos de idade, trazer para seu corpo.

Segundo Juliana Moraes, o solo DESMONTE foi criado como resposta a uma experiência pessoal angustiante, quando seu parceiro (o codiretor do trabalho, Gustavo Sol) enfrentou uma doença grave. “A peça fala do desmonte físico e psíquico que estava vivendo naquele momento, dos traumas e medos. Passei a levar comigo para os ensaios um livro que havia comprado muitos anos antes, O Diário de Nijinsky, depoimento do artista escrito em 1919, nas semanas que precederam sua internação em hospital psiquiátrico (de onde nunca mais sairia). Inicialmente escrito em prosa articulada, aos poucos as palavras do diário se desmontam em onomatopeias, repetições silábicas e fluxos de pensamento sem nexo aparente. No final, o livro reúne cartas escritas por Nijinsky em forma de poema para pessoas importantes de sua vida, como sua esposa Romola e o empresário Serge Diaghilev, mas também para as Nações Unidas e até mesmo para Jesus. Comecei a ler e gravar esses poemas, além de escrever textos próprios e de registrar pessoas falando na televisão, nas ruas e em vários outros locais. Nos primeiros 16 minutos de DESMONTE, escuto em fones de ouvido os sons e vozes por mim gravados. A plateia escuta somente o barulho da minha movimentação, minha respiração e algumas palavras que repito do que escuto. Os sons derivados das falas gravadas foram o estímulo para a criação de uma movimentação acelerada e fragmentada, com a regra de que tudo que eu escutava tinha que transformar em movimento. São muitos gestos a habitar o mesmo corpo que, aos poucos, vai entrando em curto-circuito. Com figurino simples, sem maquiagem e sem penteado, desconstruo meus movimentos, corpo, voz e respiração. Nos minutos finais a rigidez passa para o relaxamento ao som da única música da montagem: None but the lonely heart (Op.6 No.6), de Pyotr Tchaikovsky com interpretação de Christianne Stotijn e Julius Drake”.

desmonte
Direção: Juliana Moraes e Gustavo Sol
Concepção, coreografia e interpretação: Juliana Moraes
Preparação de intérprete: Gustavo Sol
Canção: None but the lonely heart (Op.6 No.6), de Pyotr Tchaikovsky. Interpretação de Christianne Stotijn e Julius Drake.

Juliana Moraes é bailarina, coreógrafa, curadora e professora. Doutora e bacharel em Dança pela UNICAMP, mestre e especialista pelo Laban Centre de Londres. Professora do curso de Artes Visuais da Faculdade Belas Artes (SP) desde 2005. Possui extenso trabalho na área de curadoria, tendo participado do corpo curatorial do Festival Cultura Inglesa nos anos de 2008, 2009, 2010 e 2012, do evento Novos coreógrafos: site specific, do Centro Cultural São Paulo em 2010 e 2014, e da curadoria das performances na SP-Arte e no Festival Verbo/Galeria Vermelho em 2015. Professora convidada do bacharelado em Teatro Físico da Scuola Teatro Dimitri, na Suíça, onde leciona nos meses de janeiro desde 2010 e mantém parceria com a companhia Herdeg-Desponds. Entre prêmios e bolsas destacam-se APCA, Cultura Inglesa Festivais 2005, 2007 e 2015, Bolsa Vitae, Danceweb Scholarship Program, Unesco-Aschberg Bursaries for Artists e Aperfeiçoamento em Artes no Exterior/CAPES.

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